domingo, 10 de julho de 2022

AMANTE!

"Basta, criança! Não soluces tanto...

Enxuga os olhos, meu amor, enxuga!

Que culpa tem a clícia descaída

Se abelha envenenada o mel lhe suga?

"Basta! Esta faca já contou mil gotas

De lágrimas de dor nos teus olhares.

Sorri, Maria! Ela jurou pagar-tas

No sangue dele em gotas aos milhares.

"Por que volves os olhos desvairados?

Por que tremes assim, frágil criança?

Est'alma é como o braço, o braço é ferro,

E o ferro sabe o trilho da vingança.

"Se a justiça da terra te abandona,

Se a justiça do céu de ti se esquece,

A justiça do escravo está na força...

E quem tem um punhal nada carece!...

"Vamos! Acaba a história... Lança a presa...

Não vês meu coração, que sente fome?

Amanhã chorarás; mas de alegria!

Hoje é preciso me dizer — seu nome!"

©Castro Alves.

São Paulo, novembro de 1868.



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